Embarques ao país asiático estão paralisados há mais de dois meses; efeito é verificado nas exportações e no campo
Há mais de dois meses, pecuaristas e representantes da indústria de carne bovina do Brasil se perguntam: quando a China voltará a comprar o nosso produto? Questão difícil de responder com uma data definitiva, mas há perspectiva: “Nós estamos correndo contra o tempo para que esse impasse seja solucionado com a maior brevidade”, disse Qu Yuhui, ministro conselheiro da Embaixada da China no Brasil. “O ano novo chinês só vai chegar no final de janeiro, mas espero que, até essa época, os ministérios consigam resolver essa questão.”
Desde setembro, os governos de ambos países mantêm conversas para a retomada das exportações. Os embarques foram paralisados após o registro de dois casos de encefalopatia espongiforme bovina, conhecida popularmente como “doença da vaca louca”, sendo um em Minas Gerais e o outro em Mato Grosso. A suspensão estava prevista no acordo comercial entre as potências, mas ninguém esperava uma lentidão de Pequim para voltar ao mercado. Como efeito, houve recuo de 43% nas exportações de outubro em comparação ao mesmo período do ano passado, e o prejuízo também chegou ao campo. Segundo o consultor em agronegócios do Itaú BBA, César de Castro Alves, “mais relevante do que isso [as exportações] foi o impacto financeiro para os pecuaristas, notadamente os confinadores, que tinham animais prontos para serem abatidos”.
Essa perda tem sido contabilizada em Mato Grosso, onde se localiza o maior rebanho bovino do país. De acordo com Francisco Manzi, diretor técnico da Associação dos Criadores do Estado, antes da interrupção dos negócios, a China respondia por mais da metade das exportações de carne que saía de Mato Grosso. Além disso, a entidade não compreende a demora do lado chinês nas negociações com o governo brasileiro, visto que “eles importam animais jovens, então, não existe nenhum risco para a segurança alimentar”. A doença só é verificada em bovinos mais velhos. Ademais, no Brasil houve o registro do caso atípico, quando os sintomas se desenvolvem de forma espontânea no organismo do animal. “A gente tem, sim, a garantia que a nossa carne tem qualidade e sanidade”, diz Manzi, rebatendo as exigências de Pequim. Contudo, ele é otimista e acredita em um retorno chinês ao mercado ainda neste ano.