Clima está cada vez mais tenso entre Bolsonaro e Mourão

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De vez em quando, o vice ainda defende o presidente em alguma situação ao falar com os jornalistas, mas sem convicção

Isac Nóbrega/PR – 04/11/2021O presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão no 5º Fórum Nacional de Controle – Educação no Pós-pandemia: Desafios e Oportunidades

Não é exagero dizer que algum dia ainda o presidente Jair Bolsonaro e o vice-presidente general Hamilton Mourão vão sair na porrada no Palácio do Planalto. Seria demais. A situação entre os dois se complica cada vez mais e começa a ficar insustentável. No entanto, tudo parece calmo. Uma calma aparente, que não existe. Presidente e vice romperam de vez. Não se suportam mais. É melhor mudar o horário dos dois. Ou então que fiquem em lugares distantes. O problema entre Bolsonaro e Mourão vem de longe. Vem, na verdade, desde o início do governo. Até a gota d’água. E a gota d’água aconteceu há algum tempo, o que azedou a relação de vez. É bom lembrar para melhor situar o leitor: foi quando o vice-presidente elogiou o Supremo Tribunal Federal por sua intervenção em relação às emendas do chamado ‘orçamento secreto’. Mourão não deixou por menos e disse naquela oportunidade que o tal orçamento secreto não respeita a moralidade e a legalidade na administração pública. Foi um Deus nos acuda. E a situação foi de vez para a ‘cucuia’. E Mourão repetiu para quem quisesse ouvir: “A intervenção do STF foi oportuna”.

Bolsonaro tem utilizado o orçamento secreto para turbinar os repasses aos parlamentares aliados aos seus Estados em troca de apoio no Congresso. Quer dizer: tudo igual ao que sempre se viu neste país. O Congresso apoia o governo, mas isso tem um preço, em dinheiro vivo. Trata-se de um procedimento ao qual o relator do Orçamento tem direito de utilizar. Mas fica mal. É imoral. E lamentável também. E o vice Mourão foi e é contra Bolsonaro, dizendo que se trata de uma pouca vergonha. Uma falta de respeito. Ocorre que a ministra do STF Rosa Weber decidiu pela suspensão do pagamento dessas emendas. Pior é que ninguém sabia a qual Estado o dinheiro público se destinava e qual o parlamentar que recebia a verba. Tudo escondido. Tudo em segredo. Mourão elogiou o STF e disse que o governo tem de dar transparência a tudo o que faz. Nada pode ser secreto. Afirmou que, se o dinheiro fosse de Bolsonaro, ele podia até rasgar, se quisesse. Mas não é dele. Esse dinheiro pertence a cada brasileiro que paga imposto e contribuiu para que o governo possa se sustentar.

Ocorre que no mesmo dia dessas críticas de Mourão, houve um evento do Palácio do Planalto sobre o Marco Regulatório Trabalhista. Bolsonaro e Mourão sentaram-se lado a lado. O clima pesado estava no ar. Raiva, distanciamento, desprezo, frieza e o que mais couber nessa lista de infortúnios. A solenidade durou cerca de 40 minutos. Em nenhum momento os dois trocaram uma única palavra ou olhar. Os dois só se cumprimentaram como manda o protocolo na hora de formar a mesa. Depois, foi aquele gelo. Eram duas figuras patéticas, um sentado ao lado do outro. Terminada a solenidade, o vice Mourão se retirou sem olhar para a cara de ninguém. Levantou-se e saiu. Bolsonaro continuou por lá cumprimentando as pessoas. Mas notava-se o mal-estar. Essa foi a última desavença que separou Bolsonaro e Mourão de vez. Quando o presidente viajou para a Itália, a fim de participar da reunião do G20, ele quase esqueceu de apertar a mão de Mourão. Quase. Mas estendeu a mão com desdém. Mesmo nesse clima, de vez em quando, Mourão defende o presidente em alguma situação ao falar com os jornalistas. Mas o faz sem convicção. O melhor é que os dois não se encontrem nos corredores do Palácio do Planalto. O distanciamento se consolidou de vez. Não tem conversa. Nem um simples olhar. Estão bem perto de resolver a questão como se decidem os problemas nos botecos, entre os que estão bêbados e os que estão de mal com a vida. Esses partem para a ignorância. Está uma maravilha.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.





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