AFROPUNK Bahia faz estreia histórica com grandes encontros da música negra

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    AFROPUNK Bahia faz estreia histórica com grandes encontros da música negra
    Foto por Lara Teixeira / TMDQA!

     

    A chuva prevista para cair ao longo do dia em Salvador no último sábado, 27 de Novembro, esperou a gloriosa estreia do AFROPUNK Bahia para só depois dar as caras.

    Com o céu azul e algumas nuvens espalhadas, o Centro de Convenções de Salvador abriu seus portões às 16h para receber um público bastante ansioso pela versão brasileira do maior festival de cultura negra do mundo.

    O início do evento foi marcado pela chegada de pessoas, ainda de máscaras, com looks incríveis e cabelos e penteados poderosos. Após entregarem seus ingressos, o público foi imediatamente para o Black Carpet tirar fotos para registrar sua presença no aguardado festival, que originalmente estava marcado para 28 e 29 de Novembro de 2020 mas foi adiado por conta da pandemia.

    Vale lembrar que, devido aos protocolos de segurança contra a COVID-19, o número de ingressos foi reduzido e limitado. Além disso, toda a renda das entradas será revertida para o projeto socioeducativo Quabales, que trabalha com a inclusão social e profissional de jovem negros periféricos através da arte e da cultura.

    “Sejam bem-vindes ao AFROPUNK Bahia 2021”

    Cerca de 1h após a abertura dos portões, a cantora baiana Larissa Luz, responsável por apresentar o festival, se preparou para anunciar o início das performances ao vivo da programação.

    Antes de convidar a primeira atração, Larissa declamou uma bela homenagem ao saudoso e genial músico baiano Letieres Leite, que nos deixou no último dia 27 de Outubro, enquanto um vídeo em preto e branco com imagens do produtor foi exibido nos telões do evento. Dedicando o festival ao músico, a cantora anunciou a banda IXI Afropunk que apresentou uma tocante versão da faixa instrumental “Floresta Azul”, lançada em 2009 pelo baiano no álbum Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz.

    Como Larissa informou logo em seguida, o grupo IXI foi formado especialmente para o evento que decidiu colocar uma banda base única no palco principal, devido à grande quantidade de artistas se apresentando naquela noite.

    Confessando que foi difícil fazer a curadoria do AFROPUNK — já que gostaria de convidar para o line-up “todos os artistas que constroem a música preta brasileira” —, Luz anunciou a entrada da paulista Tássia Reis no palco principal para “abrir os trabalhos” da edição brasileira do festival.

    Grandes encontros no palco

    “Salve, salve AFROPUNK Bahia! Tássia Reis tá na casa”. Depois dessa frase, a cantora subiu ao palco e foi recebida com comemorações e acenos do público que fizeram seus olhos brilharem antes de começar a cantar, com força, “Ouça-Me RMX”.

    Visivelmente emocionada, Tássia revelou que aquele era seu terceiro show após o período de isolamento da pandemia e seguiu sua apresentação com uma de suas músicas mais famosas, “Se Avexe Não”. Depois, convidou o bloco afro Ilê Aiyê para se juntar a ela no palco e, entre as músicas apresentadas, estava uma versão diferente do clássico “Que Bloco É Esse?”, que iniciou com batidas de Rap mas em seguida foi tomado pelos famosos batuques do grupo baiano.

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    Foto por Lara Teixeira / TMDQA!

    Em conversa com o TMDQA! depois do show, Tássia reforçou a emoção de retornar ao palco após o início da pandemia e destacou a importância do AFROPUNK estar realizando uma edição no Brasil em meio ao cenário político no qual estamos vivendo. Ela declarou:

    Acho que ser em Salvador, na Bahia, é muito simbólico, ser na cidade mais preta do mundo fora da África. O Brasil é um celeiro cultural, a gente é muito incrível culturalmente, sabe? Então acho que o AFROPUNK vir até aqui é porque eles entenderam isso. E eu acho que é legal a gente fazer esse feat não só para ampliar a nossa visão, mas a visão que o mundo inteiro tem da gente. Às vezes não chega tanto. Então, eu acho muito massa o Brasil e o AFROPUNK estarem juntos.

    Eu já fui em outras edições, então pra mim é uma satisfação não só de estar aqui hoje mas de poder presenciar e viver isso num momento político que continua muito difícil para a população preta e periférica do Brasil e do mundo. Eu acho que também é uma afirmação: ‘nós existimos e resistimos também’.

    O AFROPUNK realizou a primeira edição original do seu festival em 2005 e, desde então, já passou por Nova Iorque, Paris, Londres, Atlanta, Joanesburgo, e agora Salvador.

    No evento da capital baiana, enquanto rolava o “intervalo” do palco principal, os produtores paulistas do Deekapz apresentaram ao público um set incrível com faixas que misturam música eletrônica global com beats tropicais e brasileiros. O duo ainda convidou a jovem baiana Melly para cantar seu single “Azul”, música que apresenta um mix de R&B, Soul e batidas do pagode baiano.

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    Foto por Lara Teixeira / TMDQA!

    Em seguida, foi a vez de Urias, que estava com uma pintura corporal com referências ao grupo baiano Timbalada, reunir uma galera em frente ao palco principal para curtir seu show. Apesar de ter começado com a faixa mais tranquila “Foi mal”, mais tarde a cantora mineira esquentou e agitou o Centro de Convenções com sua parceria com o rapper baiano Vírus e com uma sequência de algumas de suas músicas mais famosas, incluindo “Diaba”, “Racha” e “Rasga”.

    Sobre a repercussão do público do AFROPUNK durante sua apresentação, Urias, emocionada, relatou ao TMDQA!:

    Olha, desde que eu lancei alguns trabalhos, lancei a primeira parte do meu CD [FÚRIA PT1], e agora na primeira semana de Janeiro eu vou lançar a segunda [parte do álbum], eu não tinha ouvido as pessoas cantarem as minhas músicas ainda. Isso pra mim foi de segurar o choro no palco. Porque é isso, quando você vê que todo mundo tá cantando você fica: ‘meu deus do céu, as pessoas estão ouvindo e seu trabalho tá chegando aqui, do outro lado do país’, em relação a quem está lá no Sudeste, como eu. Pra mim é uma emoção muito indescritível.

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    Depois do Deekapz assumir novamente o palco lateral e convidar a rapper baiana Cronista do Morro para se apresentar, a programação continuou com o show da cantora carioca Malía, que encontrou uma plateia lotada. Durante uma de suas músicas, o microfone utilizado pela cantora apresentou pequenas falhas, que não a impediram de finalizar sua performance — mas, em seguida, levaram o público a gritar em coro “microfone”, para chamar atenção da produção.

    Apesar do problema técnico ter sido resolvido, Malía ainda precisou fazer uma pausa de cerca de 7 minutos pois o ar do palco tinha sido desligado. A cantora passou a interagir com o público e chegou a cantar trechos de um funk carioca, um pagode baiano e sobrou tempo até para deixar uma fã subir ao palco e abraçá-la.

    Com tudo preparado para o show retornar, Malía apresentou uma versão sensacional de “Zé do Caroço” e em seguida convidou para o palco ninguém menos que Margareth Menezes, descrita pela carioca como “um ícone, uma deusa que abriu espaço para muitas de nós que estamos aqui, mulheres pretas”.

    A lendária cantora baiana foi ovacionada pelo público, que gritou repetidamente seu nome. Após agradecer a recepção, Margareth disse que viver o AFROPUNK Bahia “é como ver um sonho se realizando”. Juntas, as artistas cantaram a música “Minha Diva, Minha Mãe”, da cantora baiana. Depois de uma incrível performance, ela ainda atendeu aos pedidos do público e tocou um trecho da aclamada “Faraó”, que não integrava originalmente seu repertório daquela noite.

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    Uma dose de funk para manter a energia

    A próxima atração que se apresentou no AFROPUNK foi o coletivo Batekoo, que convidou a cantora Tícia e também a funkeira carioca Deize Tigrona, que chegou empolgando o público com seu hit “Sadomasoquista/Vem de Chicote”, um dos maiores sucessos entre as dancinhas do TikTok. O show seguiu com uma série de funks que conquistou o público.

    A euforia da plateia se manteve depois disso, mas em um outro ritmo. Luedji Luna entrou no palco principal e iniciou seu show com uma belíssima interpretação de sua música “Chororô”, a qual foi acompanhada pelo forte coro do público, que seguiu cantando alto todas as canções apresentadas pela artista baiana que foi indicada ao Grammy Latino em 2021.

    Após tocar “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água”, Luedji convocou YOÙN, a dupla da Baixada Fluminense, para cantar “ESPELHO”, música lançada recentemente em parceria entre os artistas no álbum Proteja Os Seus Sonhos, Vol.2. Depois de ter deixado a dupla sozinha no palco, Luedji retornou para uma apresentação enérgica do seu sucesso “Banho de Folha”.

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    O Batekoo dominou novamente o palco lateral, dessa vez com a participação do coletivo Afrobapho. Em seguida, chegou um dos momentos mais esperados da noite: o show do icônico rapper brasileiro Mano Brown. Após ser recebido com muito entusiasmo do público, o paulista iniciou o show de encerramento do AFROPUNK Bahia com a música “Mil Faces de um Homem Leal”, do seu lendário grupo Racionais MC’s e que integra a trilha sonora do filme Marighella.

    Mano Brown e o poder do AFROPUNK Bahia

    Um pouco depois, o rapper convidou para o palco a jovem cantora Duquesa, nascida e criada em Feira de Santana, interior da Bahia, e que agora prepara novos lançamentos pela produtora de Mano Brown, Boogie Naipe. A artista, que mistura R&B e trap em suas canções, apresentou dois singles e depois se juntou ao líder do Racionais para cantar a aclamada “Vida Loka, Pt. 1”, levando o público à loucura.

    Após a cantora deixar o palco, o rapper continuou sua apresentação poderosa com clássicos como “Eu Sou 157” e “Negro Drama”. Antes de “Vida Loka, Pt. 2”, no entanto, Mano fez uma rápida pausa para refletir sobre a pandemia da COVID-19 e relembrar as vítimas que faleceram por causa da doença. Ele declarou:

    Nós que sobrevivemos temos que pensar que nesses últimos um ano e 8 meses passamos por uma guerra. Perdemos entes queridos, amigos que vão deixar um vazio nas nossas vidas. E temos que imaginar que o milagre da vida também é um triz, a gente não é nada. Então vamos curtir o dia de hoje, que o amanhã só pertence a Deus.

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    Mano Brown finalizou seu show com a poderosa “Jesus Chorou”, que mais uma vez foi acompanhada com força pelo público do início ao fim.

    Com cerca de 2.700 pessoas presentes em um dia de muita música, manifestações culturais e, principalmente, enaltecimento da cultura negra, parece que o AFROPUNK Bahia veio para ficar.

    O evento, inclusive, já anunciou suas datas para o ano que vem. Marcado para os dias 26 e 27 de Novembro, o festival espera realizar uma edição 100% presencial em 2022 e nós também estamos na torcida para que isso aconteça.

    Você pode conferir o evento na íntegra através do canal oficial no YouTube. Vida longa ao AFROPUNK Bahia!

     





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