Primeiro-ministro britânico e funcionários de seu governo desrespeitaram proibições a festas e reuniões sociais ao longo de 2020 e 2021 em meio a restrições devido à Covid-19
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson pode cair após as revelações de que ele e funcionários de seu governo repetidamente desrespeitaram proibições a festas e reuniões sociais ao longo de 2020 e 2021. Foi um período em que o Reino Unido passou por lockdowns e por épocas de restrições mais leves que ainda assim limitavam as reuniões entre pessoas que não moravam juntas. Enquanto os cidadãos comuns passavam por longos períodos de isolamento, não podendo comemorar o Natal de 2020 com suas famílias ou até mesmo, em algumas épocas, velar os mortos, os responsáveis pela criação e implementação das medidas contra a Covid-19 socializavam na residência oficial e escritório do primeiro-ministro.
Johnson, como Bolsonaro e Donald Trump, começou a pandemia minimizando a importância do vírus e só mudou de tom após sua própria infecção, que o levou à UTI em abril de 2020. Desde então, começou a apregoar a necessidade de se fazer sacrifícios para combater a pandemia. Isso faz com que as revelações das festinhas e reuniões causem ainda mais indignação: além dos riscos à saúde pública, existe a hipocrisia daqueles que fazem as regras e secretamente as desrespeitam.
A história ficou ainda mais feia quando foi revelada uma festa em violação às regras na véspera do enterro do príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth, que faleceu em abril do ano passado. O velório seguiu as regras em vigor na época, tendo apenas 30 convidados presentes, com distanciamento entre pessoas que não moram juntas. Essa última regra resultou nas famosas imagens da rainha sentada na igreja, sozinha. Com o escândalo, a imprensa britânica noticiou que o primeiro-ministro teria sugerido à rainha uma flexibilização das restrições para o funeral, que ela não aceitou.
Boris Johnson — novamente, como Bolsonaro e Trump — é notório por sobreviver politicamente a gafes, declarações infelizes e mentiras óbvias. Escândalos ocasionais podem até contribuir para sua popularidade, construída em parte sobre uma imagem “politicamente incorreta”, ao invés de levar ao tal “cancelamento”, como poderia ser o caso com políticos que se vendem como bonzinhos. Mas, como o tenista Novak Djokovic descobriu recentemente, a simpatia pública pode acabar quando uma figura poderosa ou famosa parece se colocar acima das leis que se aplicam aos demais.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.