TMDQA! Entrevista: Clarissa, jovem fenômeno do pop, fala sobre seu primeiro show, rock, redes sociais e mais

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    Clarissa
    Divulgação
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    Os primeiros passos são sempre os mais difíceis. Essa, que parece uma constatação óbvia, se encaixa em literalmente qualquer situação.

    No mundo da música não é diferente. Acompanhamos todos os dias histórias de artistas dos mais diversos. É bonito e emocionante vê-los ganhando território, conquistando fãs e passando a conseguir viver de seus sonhos (o que, convenhamos, é bem difícil no Brasil). Uma desses artistas é Clarissa, cantora, compositora e atriz carioca.

    Apesar de ter apenas 22 anos de idade, ela já participou de um filme grande (“Ana e Vitória”, em que interpretou a personagem Cecília), lançou um EP e mais alguns singles e tem ganhado cada vez mais notoriedade na internet, inclusive por artistas musicais renomados. Mas precisamos destacar que esse início promissor de carreira foi algo bem atípico, considerando a pandemia do coronavírus e diversos outros fatores.

    Clarissa conseguiu criar uma base de fãs sólida por conta da internet e das redes sociais, o que fica bem explícito através do seu número de seguidores. Não à toa, as redes ajudaram a impulsionar seu maior hit, o single “nada contra (ciúme)“, lançado em Agosto. O resto, bom, é uma história que tem tudo para dar cada vez mais certo.

    Continua após o vídeo

    Voltando à “atipicidade” de sua carreira, Clarissa fez o seu primeiríssimo show no fim de Novembro, no Festival Polifonia, já com uma quantidade expressiva de fãs. É um case a ser estudado, já que a cantora jamais havia feito uma apresentação presencial antes, nem mesmo em um barzinho ou em um sarau com amigos. O saldo, conforme falamos em nossa resenha do evento, foi mais do que positivo e certamente atraiu ainda mais ouvidos para seu ótimo (apesar de ainda curto) repertório.

    Conversamos com Clarissa sobre esse sucesso meteórico, expresso com clareza nas plataformas digitais e nas redes sociais. Também ouvimos muito sobre suas referências musicais, que vão do indie pop ao pop rock nacional.

    Confira abaixo o papo na íntegra!

    TMDQA! Entrevista: Clarissa

    TMDQA!: Queria que você contasse pra gente um pouco sobre sua descoberta enquanto artista. O que você acha que te levou para esse caminho?

    Clarissa: Acho que foi um grande processo. Eu sempre fui aficionada por música e sempre fui cercada por esse mundo. Minha irmã é cantora e compositora e cresci a vendo se descobrir. Nisso, eu fui observando o processo todo de longe, mas não como algo que se tornaria um caminho para mim. Com o tempo, eu fui fazendo covers no Instagram, algo bem “low profile”. Isso foi me dando certo reconhecimento e, aos pouquinhos, eu fui percebendo que talvez conseguisse um espaço nesse ramo. Eu nunca tive uma auto estima musical muito forte, até porque, na minha cabeça, eu pensava que cada irmã tinha o seu próprio lance. Se o da minha irmã já era música, o meu deveria ser outra coisa. Mas, olhando para trás, ficava muito claro que o meu caminho seria nas artes.

    No “Ana e Vitória” [2018], eu tive a oportunidade e o privilégio de cantar também. Na primeira vez que entrei em um estúdio de gravação para cantar, eu me apaixonei completamente. Mesmo assim, demorou mais um tempo até eu começar efetivamente a compor e cantar profissionalmente. Escrevi minha primeira música no final de 2018 e a partir dali eu passei a entender aos poucos o meu processo de composição. Até que tudo culminou nas meninas da Moodstock Music me chamando para trabalhar com elas. Nesse processo, fui escrevendo as músicas do EP e mandando para elas. A gente viu o que estava maneiro e o que não estava, o que fazia e o que não fazia sentido… Então, todo esse percurso me ajudou a me entender.

    TMDQA!: Apesar dos seus lançamentos anteriores, incluindo um EP homônimo, parece que o grande hit veio com “nada contra (ciúme)”. Qual você considera o principal motivo para esse sucesso gigantesco?

    Clarissa: Eu acho que existem dois motivos principais. O primeiro é a “canetada”. Acho que a sacada da letra ajudou a impulsionar muito a música, especialmente no TikTok. Fora isso, recebi vários feedbacks, e isso fica como mérito do pessoal da Moodstock, sobre ser um rockzinho, mas com um certo frescor. Existe o hit de TikTok e a música que as pessoas realmente baixam e escutam. Acho que “nada contra” ficou no meio desses dois lugares, o que eu acho incrível. No início, eu tinha medo de virar algo de “trend” e que, aos poucos, as pessoas enjoassem. Mas é realmente uma música muito irada, que tem um papo muito maneiro e uma produção também. Considero esses os dois principais cruciais para a música chegar onde chegou.

    “Falei que seria legal fazer algo a partir dessas influências”

    TMDQA!: Acho que o lançamento calhou com um movimento cada vez mais promissor e nostálgico de um revival do pop rock. Lá fora, vemos Avril Lavigne voltando à ativa e jovens artistas entrando de cabeça no gênero, como Machine Gun Kelly e Willow. Aqui, temos algo parecido, com Sebastianismos e até Di Ferrero e Vitor Kley entrando de cabeça nessa cena. O que serviu de inspiração para você, em particular?

    Clarissa: Eu cresci escutando pop rock, rock clássico e emo. Gosto muito, mas na minha sonoridade existem outras influências diferentes. O EP é muito diferente de “nada contra” e “não me importo mais”. Eu sou extremamente eclética. Meu último lançamento foi um lo-fi, o EP tem uma pegada mais indie pop… Sinto que o EP traz algo entre Lorde e Billie Eilish, tanto pela estética quanto por serem meninas muito novas e porque eu gosto muito da escrita delas.

    Acho que, principalmente para as duas canções mais “rock”, me veio um clique de observar o que estava acontecendo no exterior, como a Olivia Rodrigo, e imaginar que seria muito legal se acontecesse isso no Brasil com influências nacionais, até porque nós temos uma cena de rock e de emo. Por que as pessoas do mainstream ainda não estão resgatando isso como estão lá? É claro que pensei isso dentro da minha própria pequenez, mas comecei a mandar essas referências para os meus produtores, como Detonautas e Charlie Brown Jr., e falei que seria legal fazer algo a partir dessas influências.

    TMDQA!: Dito isso, qual seria um feat dos sonhos para você?

    Clarissa: Rita Lee com certeza! Também pensei em Zeca Pagodinho. Eu tenho vários sambas guardados para ele. Um terceiro nome, pensando ainda mais alto, seria a Lorde, já que foi uma pessoa que me influenciou demais. Mas é claro que estou esquecendo de muita gente [risos].

    “Dentro dessa catástrofe, eu consegui me entender”

    TMDQA!: De fato, foi um início de carreira bem atípico, considerando a pandemia, o setor de shows parado e afins. Como você encarou isso? Como foi construir uma base de fãs apenas através das redes?

    Clarissa: Para a minha sorte, eu gosto muito de lidar com pessoas na internet. Acho que, assim, eu construí não só uma base de fãs que é muito legal, mas que também é muito saudável. Eu cultivei pessoas que acompanham o meu trabalho e genuinamente se importam com as músicas e comigo. Confesso que, durante a pandemia e com tudo parando do nada, tive um certo medo. Eu lido com problemas de depressão e ansiedade e, com isso, trabalhar sob essas circunstâncias é horrível. Mas acho que, para mim, tudo fluiu de uma forma boa.

    Fora isso, a pandemia me fez ficar muito sozinha comigo mesma e isso fez com que eu escrevesse mais e fizesse mais música. Isso fez com que eu evoluísse de forma muito rápida. Assim, fui encontrando uma linguagem musical que não esperava encontrar tão rápido. Se você pegar as minhas primeiras músicas e comparar com as recentes, dá para perceber uma diferença grande de maturidade. Quanto mais eu escrevo, mais eu me entendo e melhor eu consigo me expressar. Dentro dessa catástrofe, eu consegui me entender e usar mais isso ao meu favor.

    TMDQA!: Considerando o ecossistema digital em que você surgiu, como você vê a importância das redes nessa ainda nova “função” para um artista musical? Vemos o TikTok, por exemplo, como um grande impulsionador de música. Ao mesmo tempo, demais redes sociais são muito importantes para “fidelizar” o público.

    Clarissa: Eu acho que você precisa ser o mais sincero possível. Eu confesso que tenho um pouco de medo de ficarmos “reféns” da internet, de trabalhos artísticos precisarem “hitar” em algum lugar para ter relevância. Se você for ver meu TikTok, eu nem posto tanta coisa. O mesmo vale para o Instagram, porque não soa tão verdadeiro para mim. Mas tem muita gente que é muito ativa no TikTok. Funciona bem para eles e para a verdade deles. Se eu me forçasse para ter uma outra verdade, não iria funcionar. Ficaria cafona e meu público não ia engajar.

    Acho que a internet é sobre explorar e encontrar o próprio nicho e o que funciona melhor para você. Não é produzir pensando em ser acolhido ou não, até porque existem vários artistas que não produzem tanto para as redes que estão com seu mérito de sucesso por aí. Tiago Iorc está aí para provar isso [risos]. Você não precisa ser refém disso se não for a sua verdade, mas, caso seja e você queira entrar nesse universo, a maior dica de todas é não ser quem você não é. A internet carece de verdades e, toda vez que você tenta fazer algo que não soe verdadeiro, as coisas não funcionam direito. As pessoas precisam parar de fazer quando percebem que parou de fazer sentido.

    “Foi uma situação um tanto surreal”

    TMDQA!: Como foi fazer seu primeiro show? Você estreou logo no palco do Vivo Rio, que é um lugar de renome na cidade.

    Clarissa: Eu estava comentando sobre isso com o Di Ferrero. Ele não acreditou que esse tenha sido de fato o meu primeiro show. Eu nunca toquei em barzinho ou saraus antes. É claro que me deu um medo absurdo, porque eu não conseguiria imaginar uma rejeição do tamanho do Vivo Rio. Eu fui chamada para o Polifonia em Julho ou Agosto. Nessa época, nem “nada contra” havia sido lançada ainda. Então, eu estava morrendo de medo. Foi uma situação um tanto surreal. Eu nem tinha tanto reconhecimento ainda, porque o EP tinha acabado de sair. Obviamente aceitei o convite, mas bateu um certo medo da recepção do público, mas muita coisa mudou. O EP foi ganhando reconhecimento e as outras músicas foram lançadas.

    Clarissa no Festival Polifonia
    Clarissa. Foto: Karyme França / Festival Polifonia

    Vi esse reconhecimento culminando no pessoal gritando para me receber no show e foi muito bonito, porque eu duvidei à beça de mim mesma nesse processo todo. Tive crises de ansiedade e de pânico. Depois de tanta dúvida, ver a galera toda cantando e me recebendo bem foi muito bonito. Foi legal ver o pessoal cantando músicas que escrevi no meu quarto durante momentos sozinha. Foi surreal. Ainda estou processando, mas, quanto mais eu penso nisso, mais feliz eu fico.

    TMDQA!: Como foi a preparação para encarar um palco grande logo de primeira? Eu, por exemplo, não consigo me imaginar no seu lugar. Eu ia surtar de alguma forma [risos].

    Clarissa: Eu não tive preparação alguma. Fiquei o dia inteiro no camarim, e boa parte desse tempo eu passei sozinha. Enquanto isso, fiquei matutando na minha cabeça o que poderia acontecer. Quanto mais próximo do show estava, mais nervosa eu ficava, mas entreguei de vez, já que, a essa altura do campeonato, não tinha mais o que fazer. Tomei uma cerveja para dar uma relaxada e fiquei esperando a hora chegar. Quando percebi uma galera animada durante a introdução da banda, me deu uma animada. Normalmente eu tremo, suo… Dessa vez, senti como se estivesse em casa. Me senti abraçada. Foi incrível.

    “Quero tocar no Brasil todo”

    TMDQA!: Conforme as coisas voltam ao normal e os shows presenciais voltam para a agenda do amante de música, quais são suas expectativas para o futuro? Onde você se imagina daqui a 2 anos?

    Clarissa: Eu acho que me imagino fazendo shows em lugares cada vez maiores e cada vez mais longe do Rio. Quero tocar no Brasil todo. Quero fazer show internacional. Portugal, por exemplo, está logo ali. Quero mais oportunidades para lançamentos. Estou com muitas músicas escritas e quero lançar logo tudo em um trabalho completo e fechadinho. Já estamos planejando isso para o ano que vem. Também estamos planejando uma turnê para 2022, para começar em meados de Março, se der tudo certo. Vai ser muito irado!

    TMDQA!: Pode dar algum spoiler pra gente sobre o que está por vir? Shows, singles, um álbum?

    Clarissa: Temos algumas parcerias para sair. O álbum está para sair em meados do ano que vem, por volta de Junho. Está tudo encaminhado!

    “Todo mundo tem algo muito específico para dar para o mundo”

    TMDQA!: Que conselho você daria para um artista que está começando? Certamente, o seu meteórico sucesso pode ser entendido como um case de sucesso daqui pra frente.

    Clarissa: Vou voltar à questão da verdade, mas dessa vez falando sobre não tentar ir exatamente nas coisas que te inspiram. Eu vejo muita coisa por aí que é muito boa, mas que soa parecido com algo que já existe. Gêneros musicais à parte, existe um lugar dentro disso de confiar na própria originalidade. Todo mundo tem algo muito específico para dar para o mundo e acho que isso precisa refletir no seu texto, na sua estética… Esse é o mais importante. Estamos vivendo em uma era em que temos muita informação o tempo todo. Então, tudo acaba sendo parecido. É inevitável. Dito isso, o máximo de único que você puder ser, melhor. É isso que todo mundo está buscando hoje.

    Também é preciso não ter medo de errar e de ser independente. Hoje, a internet pode ser seu próprio agente, sabe? É uma liberdade enorme que artistas não tinham antigamente. É possível construir uma carreira através da internet. De qualquer maneira, é sempre importante ler os seus contratos e ter um advogado. Isso é muito importante para quem tiver a chance de entrar para uma gravadora ou uma produtora. Tive sorte de ter muita gente legal ao meu redor, mas não são todos que têm essa sorte.

    TMDQA!: Que discos você considera seus amigos, que estão com você para qualquer situação?

    Clarissa: Essa é uma das perguntas mais difíceis que já me fizeram [risos]. Mas pode colocar, em primeiro, o Abbey Road, dos Beatles. Depois, o Pure Heroine, da Lorde. Para fechar, o 1974, do Cartola, aquele com a capa em preto-e-branco.





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