Em 2021, dois medicamentos ganharam os holofotes: o Molnupiravir, desenvolvido pela MSD, e o Paxlovid, da Pfizer, ambos antivirais que podem ser administrados em casa
Em paralelo à busca por vacinas eficazes e seguras contra a Covid-19, centros de pesquisas e farmacêuticas também se dedicam desde o início da pandemia a desenvolver medicamentos que ajudem a combater a replicação do coronavírus (SARS-CoV-2) nas células humanas, evitando complicações, ou mesmo prevenir a ocorrência da doença. Em 2021, dois medicamentos ganharam os holofotes: o molnupiravir, desenvolvido pela MSD (empresa que nos EUA e no Canadá se chama Merck, Sharp & Dohme Corp), e o paxlovid, da Pfizer. Ambos são antivirais de uso oral e podem ser administrados em casa, ao contrário dos seis medicamentos já aprovados no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância (Anvisa) para uso restrito aos hospitais. Os remédios também estão sendo testados em pessoas já expostas ao coronavírus para avaliar sua segurança e eficácia na prevenção da transmissão da Covid-19.
Molnupiravir é usado contra a progressão de casos leves a moderados em pacientes de risco
O molnupiravir foi desenvolvido inicialmente para a gripe. Em outubro de 2021, a MSD anunciou que o medicamento também apresentou resultados positivos contra a Covid-19. Ele é um remédio administrado via oral que busca inibir a replicação do SARS-CoV-2 nas células humanas. Os ensaios de fase 3 mostraram que o risco de hospitalização ou morte em pacientes de risco diminuíram cerca de 50% com o uso do medicamento; 7,3% dos pacientes que receberam a droga foram hospitalizados ou morreram ante 14,1% dos tratados com placebo. O ensaio foi realizado com voluntários infectados pela forma leve ou moderada da Covid-19 e com fatores de risco para desenvolver um quadro grave da doença, como obesidade, idade avançada, diabetes mellitus ou doenças cardíacas. Os participantes receberam o comprimido cinco dias após o início dos sintomas.
No Brasil, o molnupiravir está na lista de análise da Anvisa. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai participar de um segundo estudo de fase 3 para avaliar a eficácia do medicamento como profilaxia pós-exposição (PEP), isto é, verificar se ele evita a transmissão da Covid-19 em pessoas já expostas ao vírus Sars-CoV-2. Serão avaliados voluntários que foram expostos ao vírus, ou seja, que residem com uma pessoa que testou positivo para Covid-19 nas últimas 72 horas. Essas pessoas vão usar o molnupiravir por via oral duas vezes ao dia durante cinco dias consecutivos. O teste terá a duração de seis meses e será realizado em sete centros no Brasil, sendo dois sob responsabilidade da Fiocruz: Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro. A Fiocruz também está negociando com a farmacêutica americana para “para definir a melhor forma de acesso à população brasileira e um modelo de cooperação técnica”. O Reino Unido já aprovou o uso do molnupiravir, que se tornou o primeiro medicamento de uso oral contra a Covid-19 aprovado no mundo.
Paxlovid foi desenvolvido exclusivamente contra a Covid-19
No começo de novembro de 2021, a Pfizer anunciou o seu remédio experimental contra a Covid-19: o paxlovid. Os estudos mostraram que o medicamento reduziu 89% o risco de hospitalização ou morte relacionada à doença. Assim como o molnupiravir, o paxlovid foi testado em indivíduos com Covid-19 leve ou moderada e que tinham pelo menos uma condição médica subjacente associada a um risco desenvolver a forma grave da doença. Os participantes receberam o remédio nos primeiros cinco dias de sintomas. O remédio foi projetado para bloquear a atividade da protease SARS-CoV-2-3CL, uma enzima que o coronavírus usa para se replicar dentro da célula humana. O paxlovid deve ser co-administrado com uma dose baixa de ritonavir, que ajuda a desacelerar o metabolismo e a quebra do remédio para que este permaneça ativo no corpo por períodos mais longos e em concentrações mais altas. A Pfizer já solicitou autorização de uso emergencial do medicamento à Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA).
A Pfizer ainda está realizando mais dois estudos adicionais do paxlovid. O primeiro, que teve a segunda de três fases iniciada em agosto de 2021, visa avaliar a eficácia e segurança em pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19 que tenham baixo risco de evoluir para hospitalização ou morte. A pesquisa também contará com testes em vacinados que desenvolveram uma infecção aguda sintomática da doença e que apresentam fatores de risco para desenvolver a forma grave. O segundo estudo, iniciado em setembro de 2021, também está na segunda fase e avalia a eficácia e segurança do paxlovid em adultos expostos ao coronavírus.
Medicamentos aprovados pela Anvisa para o tratamento contra a Covid-19
Remdesivir – primeiro remédio aprovado pela Anvisa para o tratamento contra a Covid-19, o remdesivir é um antiviral injetável produzido no formato de pó para diluição. A substância interrompe a multiplicação do coronavírus (Sars-Cov-2) nas células e é indicada para adultos e adolescentes (com idade a partir de 12 anos e peso corporal de, pelo menos, 40 kg) internados com pneumonia que precisam de oxigênio extra, mas que não estejam sob ventilação artificial. O medicamento não deve ser vendido em farmácias: é indicado para uso hospitalar.
Casirivimabe + Imdevimabe (Regn-CoV2) – É a combinação de dois anticorpos monoclonais – proteínas feitas em laboratório que imitam a capacidade do sistema imunológico de combater patógenos nocivos. Os anticorpos têm como alvo a proteína espicular S, que o coronavírus usa para fazer ligação com a célula humana. Eles devem ser administrados juntos, em dose única, por infusão intravenosa e somente em hospitais. O uso do coquetel é indicado nos primeiros dias de diagnóstico do quadro leve a moderado da Covid-19 quando houver tendência de piora do paciente, que também deve ter mais de 12 anos e no mínimo 40 kg. Esta combinação não está autorizada para uso em pacientes que necessitam de oxigênio de alto fluxo ou ventilação mecânica em seus tratamentos.
Banlanivimabe + Etesevimabe – este coquetel é semelhante ao Regn-CoV2: ele combina dois anticorpos monoclonais que têm como alvo a proteína spike do coronavírus, é administrado em dose única por infusão intravenosa e seu uso é restrito a hospitais e aos pacientes com quadro leve a moderado da doença com alto risco de progressão. A infusão deve ser feita dentro de três dias do teste viral positivo e até dez dias após o início dos sintomas. O coquetel deve ser usado em adultos e crianças com 12 anos ou mais e que pesem pelo menos 40 quilos e não deve ser receitado a pacientes graves ou que necessitem de oxigênio ou ventilação mecânica.
Regkirona (regdanvimabe) – É um anticorpo monoclonal que, assim como os outros, evita a replicação do coronavírus na célula humana. O regdanvimabe é indicado para o tratamento de Covid-19 leve a moderada em pacientes adultos que não necessitam de suplementação de oxigênio e que apresentam alto risco de progressão da doença, como pessoas com doença renal crônica, diabetes, doença imunossupressora ou que estejam recebendo tratamento imunossupressor. Os pacientes devem possuir 65 anos de idade ou mais. O regdanvimabe também pode ser usado em pessoas com mais de 55 anos que tenham alguma doença cardiovascular ou hipertensão; doença pulmonar obstrutiva crônica; ou outra doença respiratória crônica. O medicamento não é indicado para uso em pacientes que estejam hospitalizados devido a complicações da Covid-19. É injetável em dose única e seu uso é restrito a hospitais.
Sotrovimabe – Anticorpo monoclonal que atua contra a proteína spike do Sars-CoV-2, bloqueando a ligação do vírus e a sua entrada nas células humanas. O sotrovimabe é indicado para o tratamento de Covid-19 leve a moderada em pacientes adultos e adolescentes com 12 anos ou mais (e que pesem pelo menos 40 kg) e que estão em risco de progressão para o estágio grave da doença. Como os medicamentos acima, não está indicado para uso em pacientes hospitalizados, que necessitem de oxigenoterapia ou que precisem de aumento na taxa de fluxo de oxigênio basal. O uso também é exclusivo a hospitais e a aplicação ocorre em dose única por infusão intravenosa.
Baricitinibe – O medicamento já possuía aprovação da Anvisa para o tratamento de artrite reumatoide ativa moderada a grave e dermatite atópica moderada a grave. Agora, o baricitinibe também tem o aval da agência para ser usado no tratamento da Covid-19 em pacientes adultos hospitalizados que necessitam de oxigênio por máscara ou cateter nasal, ou que necessitam de alto fluxo de oxigênio ou ventilação não invasiva. O remédio funciona como um inibidor seletivo e reversível das enzimas janus quinases (JAKs), em especial JAK 1 e 2, responsáveis pela comunicação das células envolvidas na hematopoese (processo de formação e desenvolvimento das células do sangue), na inflamação e na função imunológica (função de defesa do corpo). A dose recomendada é de 4 mg uma vez ao dia durante 14 dias ou até a alta hospitalar, o que ocorrer primeiro. É um comprimido que deve ser usado via oral ou por dispersão oral, sonda de gastrostomia, sonda nasogástrica e sonda orogástrica.
Remédios em análise pela Anvisa
Além do molnupiravir, a Anvisa também analisa o tofacitinie, que já é utilizado para o tratamento de artrite reumatoide, artrite psoriática e colite ulcerosa. Em julho de 2021, a Pfizer solicitou à agência brasileira a aprovação do uso do medicamento para o tratamento contra a Covid-19. Assim como o baricitinibe, o tofacitinie funciona como um inibidor de enzimas. A Anvisa ainda tem pedente a análise da dexametasona, um medicamento que já tem registro no Brasil e pertence à classe dos glicorticoides, para o uso contra a Covid-19. O pedido foi enviado em 23 de dezembro de 2020 mas, segundo a agência, “boa parte deste tempo se deve à necessidade da empresa para cumprimento de exigências, que é quando a Anvisa solicita ao laboratório a complementação ou apresentação de dado faltante”.