Mês da Consciência Negra: 5 artistas que você precisa conhecer hoje mesmo

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    Haru Cage
    Divulgação

     

    O mês de Novembro tem no dia 20 uma de suas datas mais importantes, o Dia da Consciência Negra. Pensando nisso, o TMDQA! tem trazido uma programação especial que continua a se expandir, dessa vez com uma lista que vai te apresentar artistas que vêm chamando muita atenção na cena mais pesada, do Rock e do Metal.

    Aproveitamos também para conversar com alguns deles, que contaram mais sobre suas relações com o Metal e os preconceitos enfrentados dentro dessa cena.

    Confira a seguir!

    Victor Emeka (Hibria)

    Victor Emeka (Hibria)
    Divulgação

    Completando 25 anos em 2021, a Hibria já tem um público mais do que fiel e, não à toa, chegou até a constar em uma lista da publicação britânica Metal Hammer que elegeu as 10 melhores bandas brasileiras de Metal.

    Victor Emeka é o atual vocalista do grupo, usando sua voz marcante e potente ao melhor estilo do Power Metal para conquistar multidões mundo afora. Falando sobre a relação das suas raízes com a música que faz em papo exclusivo com o TMDQA!, Emeka explicou:

    Tudo parte do princípio de buscar sua verdade artística e se sustentar nela. Muitas das coisas que trago das minhas raízes se tornaram assinaturas artísticas pessoais, as quais trago como valores inegociáveis. Acredito que, quando você tem consciência do indivíduo que é, suas verdades acabam sendo imprimidas de forma legítima independente dos projetos em que está. No meu caso não é somente a música, mas também a carreira que sigo na comunicação. [Emeka também é publicitário]

    Para mim, é impossível não trazer meus valores e lutas para quem eu sou artisticamente, principalmente pelas barreiras impostas no estilo que atuo, o Heavy Metal.

    Enfrentar as barreiras da estética esperada para um frontman de uma banda de Rock sempre foi muito marcante pra mim. Quando falamos de um cantor à frente de uma banda de Heavy Metal/Rock, a imagem que nos vem à cabeça automaticamente é de um homem branco, cabelos grandes, corpo magro e olhos claros. Essa série de signos definitivamente nunca foram os encaixes do padrão de homem que eu sou e essas coisas muitas vezes se tornaram barreiras de invalidez da minha capacidade artística dentro do estilo.

    A arte é uma das ferramentas humanas essenciais mais potentes e transformadoras. No meu caso, a possibilidade de transmitir uma mensagem através do canto é a minha melhor forma de resistência e reflexão.

    O cantor ressalta ainda que o Heavy Metal “se tornou muitas vezes um estilo exclusivista e que tinha como base muitos códigos de estereótipo”, o que adiciona ainda mais dificuldades à sua missão artística.

    Principais influências: Cresci em uma família que absorvia muito a cultura preta e africana. Stevie Wonder, Michael Jackson, James Brown, Billie Holiday eram nomes muito presentes na trilha sonora da casa. Mestres do swing, interpretação e resistência.

    Siga Victor Emeka e a banda Hibria.

    Hanna Paulino (Vennecy)

    Hanna Paulino
    Foto por Iza Rodrigues (Menina Headbanger)

    Nascida no Rio de Janeiro mas amapaense de coração, Hanna Paulino ganhou notoriedade por participar do Programa do Ratinho, do SBT, e levar o maior prêmio da competição “Dez ou Mil” após cantar o hit “Sweet Child o’ Mine”, do Guns N’ Roses.

    Para além disso, entretanto, Hanna é vocalista da Vennecy, banda de Hard Rock de Macapá que está gravando seu primeiro EP. A cantora já tem uma trajetória bem interessante, tendo inclusive cantado ao lado de nomes como Edu Falaschi Andre Matos (ambos ex-Angra) em 2012 e 2013, respectivamente.

    Ainda dentro do assunto Angra, ela se juntou a outros grandes nomes do Metal nacional para gravar “Never Understand”, do disco Angels Cry, na época do lançamento do livro do baixista Luis Mariutti. Pra fechar com chave de ouro, ela também participa do canal do YouTube Guitarrista de Atena, cantando temas de animes.

    Siga Hanna Paulino e a banda Vennecy.

    Haru Cage (Corja!)

    Haru Cage
    Divulgação

    Lésbica, negra e nordestina, Haru Cage é vocalista da banda Corja!, do Ceará, que acaba de lançar seu disco de estreia Insulto e se prepara para encabeçar o show de abertura da rainha do Metal, Doro Pesch, em Fortaleza.

    Considerada uma das maiores promessas do vocal extremo no Brasil, em especial quando se trata das mulheres, Haru não tem nenhuma vergonha de levantar as três bandeiras que carrega diante do cenário da música pesada. Para ela, aliás, “é essencial” se lembrar das suas raízes:

    Eu tenho que mostrar o que sou e na música é onde ganho voz, onde eu apareço e posso expressar minhas lutas. Acredito que é aí que várias pessoas se identificam comigo.

    Cage explica ainda que “alinhar minhas músicas aos meus posicionamentos é algo bastante natural”, já que a música é sua “ferramenta de expressão” e onde ela coloca seu ponto de vista e busca a verdade — “seja ela bonita ou não”. Ela explica o poder da música de um maneira belíssima:

    A música e a arte me ajudam a bater de frente com coisas que não concordo, que acho injustas e covardes. A música é uma ferramenta muito poderosa de divulgação, ela aflora sentimentos e ajuda a despertar o pensamento e o senso crítico. A arte é revolução e busca transformação!

    Ser natural, no entanto, não significa ser fácil. Ela conta também que escutou coisas horríveis quando começou sua trajetória, mas encontrou força na cena underground do Ceará:

    No começo da minha trajetória eu escutei coisas como ‘uma neguinha fazendo Metal?’ e lembro de ficar insegura, porque era padrão a branquitude no Rock, ainda mais no Metal. O padrão para vocalistas era ser branca, ruiva e coisas assim. Mas eu estava muito focada em fazer meu som e o que ajudou bastante é o fato do ambiente do rock underground cearense ser periférico.

    Principais influências: Alexis Brown, do Straight Line Stitch, a mulher quebra demais! Pegou bem na minha veia adolescente. Killswitch Engage na época em que Howard Jones estava nos vocais e Fallon Bowman, do Kittie.

    Siga Haru Cage e a banda Corja!.

    Matheus Merari (Mountain Chicken)

    Matheus Merari (Mountain Chicken)
    Divulgação

    Com apenas 21 anos de idade, Matheus Merari é baterista da banda de Rock instrumental Mountain Chicken, um trio de Brasília que busca uma mistura única de Bossa Nova e Choro com o Prog Metal — carinhosamente, o grupo se define como “Prog Choro”.

    A ideia é justamente trazer o contraste entre o virtuosismo e o bom humor dos músicos, o que fica evidente, por exemplo, quando a banda apresenta uma cover Prog de “Hoje”, faixa de Ludmilla. O disco de estreia do grupo, You’re Going to Brazil, já está disponível.

    Matheus conta que sempre tenta “fazer alguma referência [às suas raízes] nas músicas que toco ou gravo”, algo que pra ele “tem grande importância e é ponto de resistência”. Ele revela também que suas busca “ignorar comentários maldosos” e explica que o preconceito pode acabar acontecendo “de forma velada e até mesmo passar despercebido”, mas nada tira sua visão artística de um foco muito certo:

    Penso, em primeiro lugar, que é lamentável quem encara a música como um espaço para ‘competição entre cores’. Minha forma de tocar diz muito sobre mim e assim me dedico a entregar uma música de qualidade a quem ouve.

    Principais influências: Tina Turner, Michael Jackson, Tony Coleman e Chris Coleman.

    Siga Matheus Merari e a banda Mountain Chicken.

    Bruno Teixeira (Desalmado)

    Bruno Teixeira (Desalmado)
    Foto por Igor Ferreira

    Grande nome do Metal e prestes a chegar aos 20 anos de estrada, a banda Desalmado acabou de lançar o disco Mass Mental Devolution, no qual investe em sonoridades densas e cadenciadas para além do Grindcore que os jogou na estrada.

    Por lá, o baixista Bruno Teixeira vem deixando sua marca e usando sua posição para fazê-lo também de outras formas. No ano passado, por exemplo, ele encabeçou o projeto Papo Reto pelo site Hedflow, que buscava discutir a negritude ao lado de outros músicos negros como Caio Augusttus (Desalmado), Thiago Sonho (Mano Brown) e Ed Chavez (Crexpo).

    Felizmente, Bruno vê uma certa evolução no comportamento da cena mais pesada. Mas ele relembra a primeira situação em que enxergou o preconceito dentro do Rock:

    Hoje em dia eu vejo que a situação tem mudado um pouco, mas quando comecei a ouvir Metal extremo eram poucas pessoas negras que faziam parte do cenário. Mas a primeira situação que eu sofri preconceito foi na primeira tentativa de banda que eu tive, na qual o guitarrista perguntou por que eu não deixava de tocar Metal para tocar Samba e Rap, que tinha ‘mais a ver’ com a minha cor. Me recusei a entrar na banda e segui meu caminho.

    O baixista explica que, até hoje, acha “muito importante celebrarmos a história de quem pavimentou o caminho que nós percorremos hoje em dia”, destacando os “heróis e heroínas” que tornaram tudo possível. Ele também oferece uma perspectiva pra lá de interessante no que diz respeito ao viés político da arte e como ele se relaciona à sua vivência:

    Eu acho que a arte é e sempre foi um espaço para manifestações dos mais diversos tipos de questão. Percebo que muita gente pede para não misturar arte com política, por exemplo, mas isso é algo quase impossível, pois, o fato de convivermos em sociedade já é algo político. Nem toda arte é panfletária ou partidária, mas devemos respeitar quem deseja fazê-la desta forma. No caso da minha banda, o Desalmado, falar destes temas nas letras é algo natural, pois vivemos estas questões pessoalmente de forma profunda.

    Principais influências: Itamar Assumpção, Mano Brown, Nina Simone, Bad Brains e Manu Dibango.

    Siga Bruno Teixeira e a banda Desalmado.





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